Categoria: Cigarro
A ERVA DO DIABO
A ERVA DO DIABO
“Não preciso me drogar para ser um gênio…”
Charles Chaplin
Hoje ele é muito respeitado como palestrante nas rodas antidrogas; mas já foi um dos caras mais viciados que já conheci.
Passo a palavra para José Imaculado, mas conhecido como Zé da Merda.
“Já fumei, cheirei, injetei, tomei e lambi. Fiz de tudo nesta vida para poder manter o meu vício. Roubei, furtei, assaltei, só não matei. Pulei muro, rasguei o corpo em arame farpado correndo da polícia.”
Sempre assim que ele inicia as suas concorridas palestras para viciados e familiares. O seu bairro ficou pequeno, a cidade também. Fez palestras para todo o estado. Viajou até para o exterior, atendendo a pedidos de universidades norte americanas.
“Não acreditem na amiga da mente, isso é pura ficção. A erva maldita rói seu cérebro, provoca distúrbios nos seus neurônios.”
Ele é mesmo bom de fala, consegue manter a plateia prestando atenção às suas palavras por horas e horas.
“A minha intenção hoje é contar para vocês como foi que larguei o vício. Cheguei a levar a minha família a loucura, vendi tudo para comprar a Noia. Até um liquidificador que tinha dado de presente para minha mãe.”
Por aí ele vai tirando lágrimas e sorrisos de todos que ali estão. Zé da Merda virou mesmo um excelente orador. Preste bastante atenção a interessante história que ele vai contar:
“Por que tenho o apelido de Zé da Merda? Vou explicar: tinha uns viciados na cadeia e estavam sempre pedindo drogas aos visitantes, mas a portaria não deixava passar nada. Nestes dias eu estava lá depois de ser preso tentando vender um celular roubado.”
Haviam encontrado uma nova maneira para traficar o Fumo brabo.
Engoliam várias cápsulas e arranjavam uma maneira de ser preso, uma vez dentro da cadeia era só esperar o bagulho sair.
Acontece que na maioria das vezes a embalagem não era bem preparada e rompia-se no estômago e ao sair dava mais trabalho na limpeza.
Era muito interessante, hilário mesmo, vendo ele contar com toda simplicidade como tudo aconteceu.
“Os presos não queriam nem saber, ia cada um pegando o seu papel para preparar o Brow. Mas na pressa eu peguei um pedaço da maldita e fiz logo o meu Palhão. Quando comecei a tirar as primeiras baforadas percebi um odor diferente. Aí fui verificar como haviam transportado a Planta do diabo até a cadeia e fiquei sabendo que tudo aquilo tinha vindo na barriga do idiota do Lolô, um maconheiro já velho que estava à beira da morte. Vomitei três dias seguidos e nunca mais coloquei qualquer tipo da droga na boca. Fumei merda, aí a razão do meu apelido.”
Dá para acreditar? Podem crer, existem viciados usando coisa muito pior que isso!
Boas Entradas de Ano
Fuja das drogas, droga é uma droga!
Manoel Amaral
O CASO SOUZA
Souza estava sempre tristonho, amarrotado, mal passado, gosto amargo na boca e no coração.
Fim da vida, internado, sem ninguém para cuidar daquelas dores reais.
Família não vinha vê-lo, tinha que pagar por um cuidador de idosos.
Não deixaria herança, estava fadado a passar os seus últimos momentos ali sozinho, sem ninguém, pelo SUS, até sem enfermeiros.
Entubado e amarrado, para não cair da cama, com aquele lençol encardido, um roupão simples, quase branco, do hospital de uma cidade qualquer.
Souza tivera muitos amigos quando ainda possuía dinheiro para pagar as farras. Agora ninguém vinha visitá-lo. Nem um papinho, nem um minutinho, nem um cigarrinho, nem uma pinguinha!
Até o seu melhor amigo, o João, aquele que vivia sempre com ele, não apareceu.
Souza era um grande cara, estava sempre rodeado de amigos. Bebia muito, fumava muito, vivia na noite, dormia de dia.
Começou a fumar aos quatorze anos quando foi numa pescaria com seu tio, lá pras bandas do rio. Diziam que era para matar mosquitos.
Era o pior cigarro, mais barato e fedorento: Saratoga.
Tomou gosto pela coisa. Estava sempre com um na boca mesmo apagado.
Fumou todas as marcas: Yolanda, Dalila, Neuza (mentolados), Odalisca, Continental, Camel, Minister, Hollywood, Mistura Fina, Liberty, Marrocos, Eldorado, Ascott, Negritos, Fulgor, Cigarrilhas Talvis e foi até colecionando algumas mais bonitas.
Passou até a vender fumo no mercado. Suas roupas eram todas furadas pelas brasas dos cigarros.
A fumaça invadia todos os locais onde estava, incomodando a todos não fumantes.
Disseram para ele que o fumo provocava:
-Diminuição dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e da respiração.
-câncer do pulmão, da boca, da garganta, do esôfago da laringe e da bexiga.
-Angina de peito e infarto do miocárdio.
-Isquemias ou hemorragias cerebrais.
-doença pulmonar obstrutiva crônica.
-Maior risco de contrair câncer dos rins, pâncreas e estômago.
-Tosse típica.
-Maior probabilidade de sofrer bronquite crônica e enfisema.
Ele respondia que o seu avô fumava, o seu pai fumava e nunca tiveram nada e assim ele ia continuar fumando.
Mas a sua doença foi só aumentando: aquela falta de ar. Quase “subia pelas paredes”!
Falaram para ele voltar aos cigarros de palha, para fumar menos. (Cigarro de palha apaga toda hora, os outros não apagam porque tem pólvora).
Qual o quê, Souza arrumou um tição de fogo e ficava o dia inteiro acendendo o maldito cigarro de palha.
Daí foi parar no hospital, não tinha dinheiro para pagar. Ficou ali numa cama malcheirosa, seguindo o destino final.
Se tivesse algum dinheiro para gastar ou herança para distribuir o seu quarto continuaria cheio de gente, como não tinha nada disso a solidão baixou para o seu lado.
Ninguém nem sabia o seu nome completo, só o conheciam por Souza.
Morto e enterrado. Lá na certidão de óbito estava escrito o seu nome completo: Souza Cruz.
Manoel Amaral