MILAGRE DIVINO
O Senhor Raimundinho Nonato, morador naquelas paragens do Nordeste, onde há 30 anos não chovia.
Muito religioso, sempre pedindo um milagre vindo dos céus para poder plantar o seu milho ou a mandioca para sobrevivência.
As vaquinhas morrendo uma a uma naquele pastinho onde se via como alimento só aquelas palmas torcidas, secas, pela falta d’água.
Duas filhas, uma de 15 e outra de 22 anos. Namorar por ali era muito raro, moravam longe da cidade.
De repente a garota mais nova começava a vomitar quando via a comida corriqueira. Queria comer outras coisas difíceis de conseguir por ali.
Cochichou com sua irmã mais velha que o seu “chico” não vinha há meses. Fazia referência a sua menstruação.
Os peitinhos estavam aumentando, sentia fadiga e cansaço. Andar ao sol não podia.
A barriga estava ficando inchada e ia frequentemente fazer xixi.
Algumas manchas na pele, muita ansiedade e irritação. Estava sempre brigando com a irmã.
A adolescente causou comoção na família quando anunciou a sua gravidez afirmando que é virgem e que não sabe como foi que isto aconteceu.
O pai da garota rezou 24 horas seguidas de joelhos para agradecer o “Milagre Divino”.
Algumas pessoas do povoado foram até o local e acenderam velas.
A irmã mais velha olhou o quadro da Virgem na parede e falou:
— Não acredito muito nesta história de virgindade, pois Maria só tem uma.
Manoel Amaral