TRAFICANTES I
Gato Gatuno
Ele desceu a rua com aquele andar característico todo seu, numa malemolência, mais parecido com elegância de Mané Garrincha com o seu gingado ao chutar a bola ao gol.
No corpo esguio, o seu material de tráfico: serras, brocas, fone de ouvido, cartão de memória, celular, baterias e um carregador de telefone móvel.
Passava sorrateiramente pela portaria quando o guarda estava distraído.
Andava de cela em cela, transportando aquilo tudo como se tivesse uma sela no corpo.
Os presos pegavam o que era seu, dava-lhe um bom pedaço de presunto ou ração especial de carne e carinhosamente o colocava no caminho do corredor para as próximas entregas.
O visitante estranho teria sido descoberto por um agente penitenciário que achou o bicho antes de penetrar nas celas.
TRAFICANTES II
O Cão Pastor
O Pastor Alemão muito usado na luta contra o tráfico de entorpecentes, eficaz no resgate de pessoas acidentadas e um companheiro para todas as horas.
Forte, veloz e resistente a grande caminhada e resistente à chuva e ventania. É um cão muito inteligente.
Desde pequeno este cão vivia nas imediações da cadeia, até que um dia um preso se tornou seu amigo e começou um trabalho experimental com ele.
Aquele cão era muito especial, um Pastor Alemão, que fora treinado para trabalhar a favor dos traficantes, com coragem, inteligência e combatividade.
Compraram uma coleira onde foi adaptado um pedaço de cano de PVC curvo com 50 cm e tampão dos dois lados.
Primeiramente o preso ensinou para ele que deveria entrar e sair da prisão sem ser percebido e ir até um determinado local próximo a uma matinha, cerca de 100 metros.
Em contato com outro ex-detento, ficou combinado que receberia o cão, daria um bom bife e mandaria ele de volta.
Ele fez tudo direitinho. Na segunda vez o traficante encheu o tubo de drogas e mandou o cão levar para cadeia. Foi um sucesso.
Assim o cão serviu aos presos por muito tempo. Até que um dia ele desapareceu.
Foi visto nas imediações da praça da cidade com uma linda cadela.
TRAFICANTES III
Pombo-Correio
Aquele preso criava pombos antes de ser preso e conhecia tudo sobre o assunto.
Matutando por ali, tentando pegar um pouco de raios solares, viu uma ave pousar no beiral da janela de sua cela.
Pegou-a, deu-lhe o que sobrou de sua marmita do almoço. Examinou bem os seus pés e bico, ficou sabendo que era um pombo-correio. Daqueles que enviam mensagem carregando na patinha um anel de metal.
O pombo voltara a sua janela na manhã seguinte, teve uma brilhante ideia que começou colocá-la em prática de imediato.
Entrou em contato com um amigo que morava na cidade, explicou-lhe a maneira de como poderiam trabalhar juntos.
Mais vezes a ave apareceu por ali e sempre procurava a cela do “Carrancudo”.
Mas como fazê-lo chegar até ao destino traçado pelos dois?
Procurou um pombal ali por perto e ficou de olho, se o tal pombo, que estava devidamente marcado aparecia por lá. Deu sorte, ele pertencia mesmo aquele criador.
Combinou com o proprietário que usaria a ave, por uns dias experimentalmente, para enviar mensagens. O dono deu-lhe muitas informações, disse que o pombo-correio tem uma “bússola natural”, formada por partículas de magnetita no bico. Orientam-se pelo sol.
Informou ainda que eles possuem uma visão privilegiada que permite localizem pontos de referência com facilidade.
Aí começou o transporte de cocaína nos tubos de metal dos pés da ave. Estava dando tudo certo até que um dia o coitado do pombo-correio foi abatido por um atirador de elite que treinava da janela de seu apartamento.
TRAFICANTES IV
Tatu Galinha
Ele ficava na toca durante o dia e saia a noite para alimentar-se e cavar buracos.
Aquele Tatu Galinha um animal devorador de larvas de insetos(formigas, cupins, besouros), também comia pequenos invertebrados raízes, alguns vegetais e frutos, estava fazendo seu buraco.
Ali tinha muitas formigas e gostosas raízes e ele foi seguindo chão adentro, quando já tinha cavado bastante resolveu subir para ter uma posição de onde estava.
Viu umas telas, um muro muito alto e umas construções. Pensou: — Vou voltar logo. Isso aqui boa coisa não deve ser!
Estava num presídio. Voltou para o seu buraco bem longe dali.
Acontece que um preso passava por ali e viu aquele buraco que passava por baixo do muro. Na noite seguinte cavou um pouco, alargando aquele buraco.
Na outra noite conseguiu sair e embrenhou-se no mato, até encontrou um tatu que saiu em disparada.
Manoel Amaral