VIÚVA E O SEQUESTRO III

A
VIÚVA E O SEQUESTRO – III

(Na
visão da viúva)

Cinquenta anos se passaram e Margarida estava ali, mas
nunca ficou sozinha, sempre tinha alguém para conversar. Com quatro celulares
para aproveitar todas as promoções das telefônicas, fofocava o dia inteiro.
Conhecia todo mundo e sabia bem quem era esse tal de Claudinho.

Ele vivia na sua casa almoçando e jantando e
surrupiando algumas latas de cervejas da geladeira. Trabalhar mesmo? Neca de
pitibiriba.

Acostumada a assistir aqueles horríveis enlatados
americanos  aprendera todos os tipos de
golpes. Muito mais esperta que aqueles bandidinhos pés-de-chinelos.

Quando os bandidos ligaram a primeira vez ela ouviu
muito bem o valor e o local, só pediu para repetir depois, para ganhar tempo.

Queria pensar em alguma coisa e foi aí que se lembrou
dos cinco mil reais em notas falsas, compradas pelo marido, no Paraguai.                      

Então pensou:  Chegou
a hora de usar esta muamba.

Retornou a ligação e disse o seguinte aos bandidos:

Só levarei o dinheiro solicitado se vocês deixarem no local dois aparelhos de
TV. Mas quero coisa moderna, de Plasma, umas 50 polegadas, qualquer marca serve.

Uma
ela pretendia dar para sua vizinha que também tinha uma TV muito velha.

Arrumou uma sacola de plástico preto e colocou lá
dentro os cinco mil reais em notas de cem, falsas. Mais falsas do que aquelas
notas de três reais que alguns falsários soltaram na praça.

O desfecho final todos sabem: os bandidos ficaram sem
as TVs e com um monte de papel que não valia nada. Reclamar para quem?

A decepção chegou muito rápido: quando tentaram passar
a primeira nota de cem numa padaria, foram presos.
Neca
de pitibiriba
= mixaria, nada, ninharia.

Manoel Amaral

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