ZÉ CACHACEIRO
ZÉ
CACHACEIRO
CACHACEIRO
“Mais
vale um bêbado conhecido do que um alcoólatra anônimo.”
vale um bêbado conhecido do que um alcoólatra anônimo.”
Zé
Cachaceiro ou Zé Pinguço, como era mais conhecido, desde os tempos de menino,
já conhecia o gosto da “pinga”.
Cachaceiro ou Zé Pinguço, como era mais conhecido, desde os tempos de menino,
já conhecia o gosto da “pinga”.
Não
adiantava o pai falar que aquilo não prestava, ele conhecia, era fabricante da
“danada”, Zezinho continuava a entornar “aquela-que-passarinho-não-bebe”.
adiantava o pai falar que aquilo não prestava, ele conhecia, era fabricante da
“danada”, Zezinho continuava a entornar “aquela-que-passarinho-não-bebe”.
Se
chovia ou no frio, tomava a “melindrosa” para esquentar, se fazia calor usava a
“cristalina” para refrescar.
chovia ou no frio, tomava a “melindrosa” para esquentar, se fazia calor usava a
“cristalina” para refrescar.
Uma
vez, quando choveu muito, quase morreu afogado num buraco de enxurrada, só
porque estava com a da “cabeça”, no estômago.
vez, quando choveu muito, quase morreu afogado num buraco de enxurrada, só
porque estava com a da “cabeça”, no estômago.
Ele
vivia de boteco em boteco provando umas e outras, nunca se esquecia de começar
com a “abrideira” e encerrar com a “Zuinga”.
vivia de boteco em boteco provando umas e outras, nunca se esquecia de começar
com a “abrideira” e encerrar com a “Zuinga”.
Em
festas de aniversário, em casamentos, bailes; lá estava ele tomando as suas
“águas de setembro”.
festas de aniversário, em casamentos, bailes; lá estava ele tomando as suas
“águas de setembro”.
Bom
pai ele era, mas não se esquecia de passar sempre no Bar Bicha, para secar mais
uma “água ardente”.
pai ele era, mas não se esquecia de passar sempre no Bar Bicha, para secar mais
uma “água ardente”.
De
copo em copo e no corpo a corpo diário, lembrava sempre da “caninha”.
copo em copo e no corpo a corpo diário, lembrava sempre da “caninha”.
Se
era de dia, à noitinha, ou mesmo de madrugada, ele levantava e tomava uma
“canjibrina”.
era de dia, à noitinha, ou mesmo de madrugada, ele levantava e tomava uma
“canjibrina”.
Os
amigos o convidavam para mais um “sumo de cana” e ele não fazia de rogado: –
Traga logo esta “sinhazinha”.
amigos o convidavam para mais um “sumo de cana” e ele não fazia de rogado: –
Traga logo esta “sinhazinha”.
Faziam
uma aposta para ver quem bebia mais e Zé Cachaceiro lá estava, sempre na
frente, consumindo as “aninha, azougue, azuladinha, azulzinha, bagaceira e baronesa”.
uma aposta para ver quem bebia mais e Zé Cachaceiro lá estava, sempre na
frente, consumindo as “aninha, azougue, azuladinha, azulzinha, bagaceira e baronesa”.
Pinguço
como era não enjeitava nem a “bicha” (no bom sentido).
como era não enjeitava nem a “bicha” (no bom sentido).
Tinha
um arsenal em sua cabeça, os mais esquisitos: “bico, boa, borbulhante, boresca, branca, branquinha,
brosa, brozinha, cambraia, corta bainha, cândida”.
um arsenal em sua cabeça, os mais esquisitos: “bico, boa, borbulhante, boresca, branca, branquinha,
brosa, brozinha, cambraia, corta bainha, cândida”.
Mas
no Bar Bosa repetiam outros sinônimos bem interessantes: “canguara, canha, canjica, catuta,
caxaramba, caxiri, cobreira, corta baínha, cotréia, cumbu, cumulaia, danada,
delas-frias”
no Bar Bosa repetiam outros sinônimos bem interessantes: “canguara, canha, canjica, catuta,
caxaramba, caxiri, cobreira, corta baínha, cotréia, cumbu, cumulaia, danada,
delas-frias”
Já
no Bar Tolomeu discutiam os seguintes: “dengosa, desmacha-samba, dindinha, dona
branca, elixir, espírito, engasga-gato, esquenta-por-dentro,
filha-do-senhor-de-engenho, fruta, girgolina, gramática, grampo, homeopatia.”
no Bar Tolomeu discutiam os seguintes: “dengosa, desmacha-samba, dindinha, dona
branca, elixir, espírito, engasga-gato, esquenta-por-dentro,
filha-do-senhor-de-engenho, fruta, girgolina, gramática, grampo, homeopatia.”
O
Zé continuava tomando “suor de alambique”, até que um dia foi parar no hospital
da cidade. O diagnóstico não era dos melhores: o fígado estava inchado, os rins
muito abalados. Nem tinha cor de gente, um amarelão sem fim.
Zé continuava tomando “suor de alambique”, até que um dia foi parar no hospital
da cidade. O diagnóstico não era dos melhores: o fígado estava inchado, os rins
muito abalados. Nem tinha cor de gente, um amarelão sem fim.
Na
volta para casa, no primeiro bar recebeu a listagem de um amigo.
volta para casa, no primeiro bar recebeu a listagem de um amigo.
Que
também fazia coleção de sinônimos da palavra cachaça, que nem o Zé. A relação
dele era grande: “dengosa, dindinha, dona branca, elixir, engasga-gato,
espírito, esquenta-por-dentro, filha-do-senhor-de-engenho, fruta, girgolina,
gramática… “
também fazia coleção de sinônimos da palavra cachaça, que nem o Zé. A relação
dele era grande: “dengosa, dindinha, dona branca, elixir, engasga-gato,
espírito, esquenta-por-dentro, filha-do-senhor-de-engenho, fruta, girgolina,
gramática… “
É
que ele viajava muito e em cada cidade tinha o cuidado de anotar tudo
relacionado com a pinga.
que ele viajava muito e em cada cidade tinha o cuidado de anotar tudo
relacionado com a pinga.
Atrás da porta da cozinha, escrito à lápis
uma lista: “grampo, homeopatia, já-começa, januária, jesebita, jimjibirra,
joça, junça, jura, legume, limpa, linha branca, lisa, maçangana, mandinga,
manhosa, mãe de Luanda, mamãe-sacode, mandureba, monjiprina, marafo,
maçã-branca, montuava, morrão, morretiana, óleo, orantanje, panete, parati,
patrícia, perigosa, pevide, piloia, pinga, piribita, porongo, prego, pura,
purinha, puríssima, Roma, remédio, restilo, retrós, roxo-forte, samba, sete
virtudes sinhaninha, sipia, simba,
supura, tafiá, teimosa, terebentina, tinguaciba, tiquira, tiúba,
tome-juízo, uca, xinapre, zuinga”. E numa mesinha da sala um Pequeno
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, organizado por Hildebrando de Lima
e Augusto Barroso em 9a. edição de 1951, Editora Civilização
Brasileira, aberto na letra “C” e a palavra Cachaça assinalada em vermelho.
uma lista: “grampo, homeopatia, já-começa, januária, jesebita, jimjibirra,
joça, junça, jura, legume, limpa, linha branca, lisa, maçangana, mandinga,
manhosa, mãe de Luanda, mamãe-sacode, mandureba, monjiprina, marafo,
maçã-branca, montuava, morrão, morretiana, óleo, orantanje, panete, parati,
patrícia, perigosa, pevide, piloia, pinga, piribita, porongo, prego, pura,
purinha, puríssima, Roma, remédio, restilo, retrós, roxo-forte, samba, sete
virtudes sinhaninha, sipia, simba,
supura, tafiá, teimosa, terebentina, tinguaciba, tiquira, tiúba,
tome-juízo, uca, xinapre, zuinga”. E numa mesinha da sala um Pequeno
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, organizado por Hildebrando de Lima
e Augusto Barroso em 9a. edição de 1951, Editora Civilização
Brasileira, aberto na letra “C” e a palavra Cachaça assinalada em vermelho.
Passado
alguns dias alguém chegou em casa avisando que o Zé havia morrido de tanto
beber.
alguns dias alguém chegou em casa avisando que o Zé havia morrido de tanto
beber.
A
viúva inconsolável foi despedir-se pela última vez e notou que uma de suas mãos
estava fechada com qualquer coisa dentro. Com esforço conseguiu retirar um
pequeno papel onde estava escrito: ”imaculada.”
viúva inconsolável foi despedir-se pela última vez e notou que uma de suas mãos
estava fechada com qualquer coisa dentro. Com esforço conseguiu retirar um
pequeno papel onde estava escrito: ”imaculada.”
Foi
o último nome que disseram ter vindo do nordeste.
o último nome que disseram ter vindo do nordeste.
“Carpe
diem. Beba!”
diem. Beba!”
Aproveite o Dia. Beba !
Manoel
Amaral
Se quiser conhecer nomes curiosos de cachaça: http://mulher.terra.com.br/bebidas-com-nomes-curiosos/
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