OSVANDIR CHOROU

OSVANDIR CHOROU!
M%C3%A3e OSVANDIR CHOROU


A D. Oldair, tia do Osvandir, foi quem nos contou essa história, baseada em
fatos reais:


A família estava passando por muitos problemas; o marido desempregado por mais
de um ano, seis crianças para cuidar. A filha mais velha, com apenas 11 anos já
ajudava em tudo, naquele barraco emprestado por um vizinho de bom coração. A
mulher de Joãozito foi internada para fazer exames, ficou sabendo que a coisa
andava preta para seu lado: o primeiro exame constatou um tumor no seu seio
direito. Retirado material para análise, ficou comprovado que era maligno.

Internada às pressas no Hospital do Câncer, para as primeiras sessões de
quimioterapia e radiação,  logo os seus cabelos foram caindo. Isabelita foi
visitá-la, mas foi impedida de entrar no hospital pela burocracia. “Crianças
com menos de 12 anos não podem entrar”, repetiu o moço da portaria.

Como esperta que era, esperou um cochilo do porteiro e entrou, procurou o
quarto 1313 e lá encontrou a sua pobre mãezinha entre aqueles equipamentos do
hospital. Notou que ela usava um lenço amarrado a cabeça e perguntou: “Pra que
isso mamãe?” A mãe disse que era parte do tratamento hospitalar.

Isabelita falou dos irmãos, todos sentiam a sua falta e do pai que cada vez
bebia mais. Mas no meio de tanta notícia ruim apareceu uma boa, e aí Izabelita
era só sorrisos: “vou começar amanhã num novo emprego, mamãe, vou vender doces
e frutas na rodovia, pertinho daquele posto de gasolina.”

Noutra visita à mãe, dizia que estava ganhando o suficiente para levar alimento
para os outros cinco irmãos e seu pai. A sua mãe pediu-lhe que abrisse a gaveta
do móvel do quarto e retirasse a sua bolsa. Tentou recostar-se na cabeceira da
cama, não conseguiu, pediu ajuda, as enfermeiras a colocaram na posição
solicitada. Abriu a bolsa, pegou uma caneta e uma velha foto sua e do marido,
escreveu, com as mãos trêmulas, uma mensagem no verso. Entregou a foto para
Isabelita.

A menina saiu do hospital com aquela foto junto ao coração. Ao chegar a sua
casa, pegou um lápis de seu irmão e também escreveu uma frase logo abaixo da
que sua mãe escrevera.

Os dias foram passando rapidamente e Isabelita ali naquele ambiente nada bom
para crianças, mas ela sabia se defender muito bem. Quando alguém tentava
qualquer coisa, ela dizia: “antes de me fazer mal, pense em sua filha ou sua
irmã”. E o resultado era impressionante, aquelas palavras, ditas com tanta
simplicidade e inocência, atingia os corações das pessoas.

Ela ficou famosa no local, apareceu até numa reportagem sobre menores que
trabalham nas estradas. Muitos que circulavam por ali conheciam a história de
sua família e contribuíam independente de receber qualquer mercadoria.

Mas o tempo voava e a doença de sua mãe agravara, o câncer atingira várias
partes do corpo. Debilitada, ela já não conhecia quase ninguém, os remédios
sempre muito fortes a deixava dopada o dia inteiro.

Numa das visitas, nova confusão na portaria que não permitia a sua entrada. Com
pena, outro porteiro, deixou a criança entrar. Isabelita pode ficar só alguns
instantes com sua mãe. Ela estava pálida, da cor dos alvos lençóis do hospital.
Conseguiu apenas levantar a mão direita parecendo dizer adeus.

Isabelita voltou para casa muito triste, colocou comida na mesa para seus
irmãos e perguntou pelo pai, ninguém sabia onde ele estava.

No outro dia Isabelita levantou-se mais cedo, com vários pensamentos na cabeça,
algo lhe dizia que vida de sua mãe estava no fim.

Correu ao hospital, mas não conseguiu entrar, ficou por ali observando até a
tardinha, quando notou uma ambulância saindo. Procurou informações e ficou
sabendo que aquele carro levava o corpo de uma mulher para o necrotério.

Aquela mulher fora enterrada em cova rasa, com despesas pagas pela Prefeitura
local.

No outro dia Isabelita sumiu; ninguém tinha notícia dela, o irmão de nove anos
esteve no seu ponto de trabalho e não conseguiu nenhuma informação.

Andando por uma vala da rodovia encontrou uma fotografia de sua mãe e de seu
pai. Atrás da foto uma mensagem: “Isabelita querida, cuide bem de seus irmãos”.

Logo abaixo outra frase: “Pode deixar mamãe, vou cuidar bem dos meus irmãos e
do papai.”

Manoel Amaral 
Dezembro de 2007

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0 comments

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duca

História que de longe poderíamos considerar "bonita", muito triste e tão real quanto acontece nas beiras das BR´s do nosso País materno.
Amanhã, 2014, dia das esposas de Joãozitos e mamães de Izabelitas…

comments user
Manoel

Pois é Duca, história profética, várias mulheres não visitam os médicos, quando vão já é tarde.

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