O REX

O
REX

O cão é o melhor amigo da mulher” (Dito
popular)

Abri os jornais e não fiquei nada satisfeito com as
notícias: inflação, propinas, corrupção, assassinatos, já fazem parte do nosso
prato diário.

Só uma coisa me chamou a atenção hoje de manhã; D. Cotinha
pegou um táxi perto de minha casa.

Só vi esta senhora andar de ônibus, pois agora
aposentada, não paga mais nada.

Mas ela estava toda arrumadinha, parecia uma mulher de
uns 30 anos, apesar de ter bem mais.

Saia branca de bolinhas azuis, tipo anos setenta e uma
blusinha clara que mostrava mais do que escondia.

— Onde a Senhora vai descer?

— Lá no centro, na rua de baixo. Vou fazer exames de
sangue e fezes.

O endereço, incompleto, seria o suficiente para aquele
taxista experiente.
Seguiu por entre carros, motos, caminhões velhos e ruas
estreitas.

Corrida: R$15,10, mas o jovem arredondou o preço, tirou
R$0,10.

Ela agradeceu e ficou ali como uma estátua esperando o
sinal verde para atravessar a rua.

D. Cotinha era muito respeitadora, não atravessava com
sinal vermelho.
Chegou ao laboratório que tinha até um nome sugestivo:
“Sangue é Vida.”


Pegou a senha, um número muito alto, mas a atendente
explicou que muita gente já tinha saído.


Ela ficou ali pensando do porque o seu médico havia
solicitado aqueles exames, não chegou a nenhuma conclusão.

Olhou de lado, uma moça deixou a sua bolsa cair e um
monte de coisas esparramou pela sala: batom, cortador de unhas, lixas, lenços,
copo e até um aparelho muito esquisito: um cabo para ligar na energia, parecia
um tubo de shampoo muito comprido.

— D. Cotinha… – chamou a mocinha de avental branco.
— Sim, estou indo.

Levantou-se, deixou a embalagem com urina para trás,
voltou e pegou.
Lá no quartinho, a jovem tentou tirar o seu sangue, mas
as suas veias não estavam colaborando.

— Fecha a mão, fique firme, não vai doer nada.

Depois de três picadas, acertou e a velhinha foi
liberada.

Resultado do exame seria para daí a três dias.

Como demorou a passar, foi ao supermercado, ao salão,
ao cabelereiro, ao Banco e ainda faltava um dia.

Aproveitou e foi visitar a D. Mariazinha lá da rua de
cima, bateram um papo, puseram as fofocas em dia e ainda deu tempo de passar no
açougueiro, aquele moço bonitão que a atendia tão bem.

No dia seguinte, as 17 horas, lá estava ela no balcão
do laboratório.

Pegou os exames e perguntou:

— Qual foi o resultado?

— Boas notícias, a Senhora está grávida…

Ela saiu dali meio cabisbaixa e pensando como aquilo
poderia ter acontecido:
“Seria o bombeiro hidráulico? Não, não poderia ser, ele
demorou muito pouco. E o eletricista? Aquele já estava velho e só roncava…”

“Então só sobrou o Rex, que não me larga a noite
inteira.”

Manoel Amaral

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