Categoria: cão
TRAFICANTES
OSVANDIR E A COBRA GRANDE
O CÃO DO INFERNO
Ao correrem apavorados, Zeca puxou o crucifixo grande, de madeira, que estava pendurado no seu pescoço por um pedaço de cordão de algodão. Lançou-o no chão. Ambos continuaram correndo, mas o cão estacionou diante do crucifixo. Depois de uns 5 minutos de corrida chegaram ofegantes, à casa do Zeca
Zeca ao entrar na casa mandou Zilda fechar todas as portas e não perguntar nada.
Ambos não conseguiram dormir e ficaram conversando na varanda.
– Só corri porque você correu, – disse Osvandir, muito sério.
– Também corri porque você correu! – Respondeu Zeca.
Ambos riram bastante.
– Se fosse um cachorro doido eu o teria abatido com a alavanca! Mas era o cachorro do demônio! – Disse Osvandir, como um desabafo.
– Pra mim tanto faz um como o outro eu não teria coragem para tanto! O crucifixo ajudou um pouco. O danado parou.
– Que isto fique entre nós dois! – Disse Osvandir, desejando uma confidência e cumplicidade.
– É claro! Disse Zeca, também tive muito medo!
– Então estamos de acordo.
Osvandir comprou passagem em um navio de pequeno porte que aportou no trapiche da fazenda do Zeca; para receber também um carregamento de pirarucu. Despediu-se de Zeca com um forte abraço e gargalhadas. Zilda não sabia do que se tratava. Ficou séria, apenas olhando para ambos. Já eram 17h30min. Osvandir se despediu da família. Iria contar a história um pouco de frente com pai do Zeca, a seu tio Osmair.
Entrou no pequeno navio branco. Colocou sua maleta à sua frente e sentou-se no primeiro banco comprido que comportava uns 5 passageiros sentados lado a lado.
Ao passarem pelo lado esquerdo do rio Manacapuru, em direção ao rio Solimões, na frente da ilha de Monte Cristo a proa do barco chocou-se com algo sólido e volumoso. Osvandir foi lançado para frente, no convés, batendo a cabeça em uma caixa de papelão cheia de algo macio.
Várias pessoas forram jogadas para frente e alguns se feriram na cabeça e em outras partes do corpo.
Do convés superior do navio Osvandir ouviu um clamor do operador de rádio pedindo socorro de Manacapuru, onde havia várias embarcações, por ser um entreposto de pesca bastante concorrido. O pequeno navio foi adernando pela proa. Muitos passageiros sabiam nadar. Nadavam para a margem, mas a correnteza os levava para o rio Solimões.
Osvandir ouviu o operador comentando que um tronco comprido, muito grosso e sinuoso atravessava o rio em direção à ilha. Enquanto o barco mergulhava de proa para dentro do rio escuro, embarcações e vários tipos e tamanhos vieram se aproximando para apanhar os náufragos. Osvandir nadava de lado segurado a maleta com mão esquerda. Era muito cansativo e muito pouco era o avanço para a margem do rio. Uma canoa passou perto dele e duas mãos seguraram o braço esquerdo que estava fora da água, outra foi pegando a maleta. Logo que ele começou a ser suspenso outras mãos segurando sua camisa e cintura, o puxaram para dentro da canoa.
-Você está bem? – Alguém perguntou.
– Estou salvo graças a vocês, – respondeu sorrindo agradecido.
Os navegantes da canoa grande recolheram outros náufragos.
Autor: Moura
OSVANDIR, A VIÚVA E O CÃO
Osvandir estava num daqueles dias difíceis, que até aqueles três pontinhos atrás de sua orelha esquerda, herança da sua última abdução, começaram a doer. A cidade onde iria ainda estava longe, a uns 100 km de distância.
Parou na beira da estrada para tomar um cafezinho e ao sair ouviu um assunto que lhe interessou. O pessoal fazia referência a uns seres peludos que andavam aparecendo no meio do mato e na próxima cidade, onde iria visitar.
Seguiu mais temeroso pela estrada, logo que seu carro começou a ganhar velocidade, notou qualquer coisa atravessando a estrada aos saltos.
O seu corpo começou a tremer e sentiu um friozinho subir a espinha dorsal.
Depois de um velho pequizeiro, já preto pelas constantes queimadas de beira de rodovia, viu uma placa indicativa de trevo para a cidade.
Diminuiu a velocidade, contornou à direita e ia seguindo por aquela estrada de terra, quando apareceu uma vaca sem ele saber de onde saiu… Seria mesmo uma vaca? Não prestou muita atenção.
Alguns pontos de referência como uma montanha já bem escavada para retirar cascalho, uma pequena ponte de madeira, depois do bambuzal.
Chegou a cidade depois de uma pequena elevação de terreno. Lá em baixo dava para ver que era pequena, não passava de uns vinte mil habitantes.
Foi passando por aquelas ruas, algumas calçadas outras não, até chegar a um hotel indicado por um proprietário de bar.
Preencheu aquelas fichas, assinou o livro e recebeu a chave para do seu quarto. Desfez as malas e deu uma olhada pela janela. Uma casa grande chamou-lhe a atenção por causa de quatro pilares bem na entrada que poderiam significar: Ciência, Filosofia, Arte e Mística.
Pensou: “Deve ser de alguém letrado, ligado a estas ciências antigas”.
Procurando informar-se melhor ficou sabendo que aquela casa fora construída por um alemão, depois da segunda guerra mundial, mas hoje era ocupada por uma viúva jovem, de um grande empresário ligado a área de produtos alimentícios.
O dito empresário seguia em seu bimotor para São Paulo quando sofreu um acidente. O seu corpo nunca foi encontrado.
Com todas essas informações Osvandir, curioso, não deixou de observá-la, quando podia, com seu possante binóculo.
Tomou um banho frio, desceu as escadas, ele estava no segundo andar do hotel, almoçou e foi dar umas voltas, comprar jornais e ver se conseguia mais informações sobre as estranhas criaturas peludas.
Um dos jornais que comprou, com o sugestivo nome de “O REPÓRTER”, era mais sério, publicava propaganda das obras do Prefeito, já o outro, em formato de tablóide, com cada página medindo aproximadamente a metade do tamanho do outro jornal, só para gozar o principal, tinha o nome de “ARRE PORTER”. Este pequeno jornal era mais fofoqueiro, publicava página policial, esportes, fotos de mulheres bonitas, tudo que o povão gosta e o preço era baixo: R$0,25.
Numa roda de amigos ficou sabendo que há dois dias aparecera alguma coisa diferente na periferia, à noitinha, mas quando foram apurar era um jovem que pulara o muro da casa da namorada…
Ao chegar no seu quarto pegou o binóculo e olhou aquelas ruas escuras, já era quase meia noite. Alguma coisa chamou-lhe a atenção, no quarto da viúva havia uma criatura negra, do tamanho de um cão.
No outro dia quis saber do gerente do Hotel Pirâmide, o que era aquilo que viu na noite anterior na mansão da viúva. O velho Senhor José informou-lhe que ela não largava daquele cão negro o dia inteiro.
Desconfiado, passou a observá-la à noite. Por trás daqueles finos tecidos da cortina da janela, descobriu que o animal ficava na cama deitado com ela.
No fundo do quintal uma piscina grande, com água azul. Toda manhã ele nadava junto com aquela Senhora.
O tempo foi passando e Osvandir ficando impaciente, nada acontecia de anormal naquela cidade tão falada.
Porém, sempre existe um porém, naquela noite ele foi deitar mais cedo e de manhã foi despertado por um barulho diferente nas ruas, um zunzum de pessoas por toda parte.
Na frente da mansão da viúva uma ambulância e enfermeiros entrando e saindo. Não viu o cão preto. Mais tarde soube do que aconteceu.
Ao pegar o caminho de casa resolveu comprar os dois jornais rivais: “O Repórter” e o “Arre Porter”. O primeiro trazia a seguinte manchete: “Cão agrediu Viúva”. O outro dizia: “Viúva da mansão foi estuprada por seu cão” e completava dizendo que os dois, grudados, foram parar no hospital.
Manoel Amaral