OS VELHINHOS DA MANIFESTAÇÃO

OS VELHINHOS DA MANIFESTAÇÃO
velhinhos OS VELHINHOS DA MANIFESTAÇÃO

         “Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e
pela mesma razão.” Eça de Queiroz

Aqueles velhinhos que na maioria assistiram pela TV, em
1984, a manifestação Diretas Já, quando mais de um milhão de
pessoas lotou a Praça da Sé na capital paulista, agora estavam na sua manifestação.

Eles vinham descendo a rua, a intenção era passar
defronte a Prefeitura para protestar, mas faltaram forças,  foram parar na Praça.

Uns já cansados, procurando água, amparados pelos
netos, outros piores ainda, botando água pela boca.

Alguns
empunhando cartazes ultrapassados como: Fora Getúlio! Fora Collor! Fora Lula!
Livros foram deixados pelo chão. Cartolinas com vários
pensamentos e até aquele que dizia:
“Somos
ricos, temos:
Prata nos cabelos;
Ouro nos dentes;
Pedras nos rins;
Cristais na vesícula;
Açúcar no sangue;
Chumbo nos pés;
Catarata nos olhos;
Ferro nas articulações
Água nos joelhos e
Uma fonte inesgotável de gás natural…”

E não faltava gás mesmo, foi um barulho geral.

E outros cartazes diziam o seguinte:
“Velhice é quando o
trabalho já não dá prazer e o prazer começa a dar trabalho.”

“Não é só pelos 20 centavos, o povo percebeu que os
privilegiados continuam mandando e a impunidade campeando.”

“Não somos imbecis, queremos nossos direitos.”

“Joaquim Barbosa para Presidente.”

“Vamos acabar com tantos ministérios.”

“23 mil, para que tanto cargo de confiança?”

“Queremos o trem bala!”

“Redução tarifa celular.”

Tinham de tudo nos enunciados, porém eles tropeçaram
nas pedras e escorregaram nos lixos e sem local para tirar a água dos joelhos sentaram
logo nos bancos da praça.

A reunião começou, alguns estavam dormindo, outros
lendo papéis velhos.
E não faltaram protestos. O presidente dizia que era
preciso ter tolerância para alguns assuntos.

Uns poucos não concordavam e afirmavam que era preciso os
mais velhos protestarem para dar exemplo para os mais novos.

Lá fora o mundo fervilhando e ali todos discutindo
abobrinhas!

Um deles até falou direto e reto, achando o que o
assunto fosse música:
— Bem disse ao velho Caubi Peixoto: CONCEIÇÃO, ninguém
sabe, ninguém viu…

Encerrada a reunião todos foram convidados para o Chá
das cinco, no bar da esquina, mas na realidade foram tomar o seu remédio para
artrite, gota, coração, diabetes, bronquite crônica, mal de
Alzheimer e outras demências.
Manoel
Amaral

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