Categoria: acidente
PRECARIEDADE TRANSPORTE ESCOLAR
O MOTORISTA DE TÁXI E O BANDIDO
Justino, o justo, motorista de táxi há mais de cinco anos em sua cidade, passou por maus momentos naquele dia.
Quase chegando ao ponto de trabalho, por volta de oito horas da manhã, ao atravessar a rua, foi atropelado por um motoqueiro e sua máquina infernal. Teve ferimentos leves, seguiu mesmo assim para o trabalho.
Refeito do susto, do outro lado da rua, encontrou os seus colegas que falavam de assaltos e liam uma jornal que compravam todos os dias e que apreciavam muito; publicava: mulher pelada, futebol e página policial.
Um deles disse que na noite anterior recusara uma chamada para um bairro afastado dizendo que não podia ir por ter outro compromisso, mas na realidade era medo de ser assaltado.
O dia não começara bem, tentava pegar logo algum passageiro para não ter prejuízo e cumprir a cota do dia.
Uma chamada, ali por perto, foi urgente levar aquele passageiro onde desejava.
A viagem foi ficando muito longa, quase dez horas daquela manhã conturbada, o passageiro arrancou da cintura um revólver e anunciou o assalto, ali mesmo, no meio da rua de grande movimento.
Mandou o motorista parar numa rua mais estreita e sem movimento, amarrou-o com fita adesiva que carregava no bolso. Vedou seus olhos e tampou a boca com o mesmo material.
Justino ficou totalmente imobilizado, foi jogado no porta-malas do veículo.
O bandido rodou a cidade inteira com o pobre motorista quase morrendo asfixiado naquele ambiente próprio para malas e nunca para pessoas.
Parou perto de um posto de combustível para comprar um litro de gasolina. Ninguém ficou sabendo para que.
Nesse meio tempo Justino soltara a amarra dos pés e pressionando o banco traseiro conseguiu sair do veículo, ainda com as mãos presas e os olhos vedados, não conseguia gritar tinha a fita atravessada em sua boca.
Cambaleando ali no meio da rua, sem saber onde estava. Recebeu uns socos de alguém que acabara de chegar. Era o assaltante que pegou o carro novamente e fugiu em disparada para outro bairro.
Justino foi socorrido pelo primeiro morador que já o conhecia do ponto de táxi no centro da cidade.
Retirada as fitas dos olhos, boca e das mãos, reconheceu onde estava e agradeceu ao senhor Joaquim que o ajudou.
Na outra ponta da cidade o assaltante continuava a andar no veículo e fazendo até corridas quando solicitado.
Nestas alturas dos acontecimentos o proprietário do veículo já sabia de toda a história e acionou a polícia.
O idiota do assaltante foi preso na zona rural, por desconfiança de um passageiro que fretou o veículo, achou o preço muito baixo e desconfiou do taxímetro desligado durante a corrida.
Manoel Amaral
O PESCADOR E A RODA DE CAMINHÃO
(Motorista de carreta)
Um caminhão passou em alta velocidade pelo asfalto…
Um pescador desceu calmamente a ladeira e posicionou-se num recanto logo abaixo da velha ponte. Ali, naquele local, ele pescava muitos peixes há uns vinte anos, hoje apenas alguns só para distração.
Trouxera uma velha capanga de brim marrom, que já estava quase branco pelas constantes lavagens. Uma lata de isca e uma velha enxadinha com cabo curto, que só servia mesmo para arrancar minhocas.
O seu jeito especial de pescar, às vezes, conseguia levar para casa uns peixes maiores. Mas o tempo estava ruim, havia chovido no dia anterior e o rio muito cheio.
Parou alguns instantes para tomar o seu cafezinho e fumar um cigarrinho de fumo baio, fraquinho, só para espantar os mosquitos que cada vez aumentavam mais.
Os veículos na rodovia já começavam a incomodar, logo ele que fugia de casa por causa de barulho. Desceu então para o poção que estava a uns cem metros abaixo.
Algumas piabas começaram a beliscar a isca, as águas faziam um semicírculo no remanso e vários peixes ficavam por ali para abocanhar algumas frutinhas do mato.
Tudo num silêncio maravilhoso, apenas alguns cantos de pássaros em extinção. Na semana passada vira um tucano pousado num galho seco, coisa que há muito tempo não via por ali. Pensou consigo mesmo: ― Os pássaros estão voltando, quem sabe os peixes também apareçam no rio.
Nesse meio tempo uma capivara com seus filhotes passaram bem pertinho dele, numa trilha que ia para um milharal. Os velhos tempos estaria mesmo voltando, ou tudo aquilo seria uma ilusão?
Ele notara mesmo que muitas aves e animais selvagens estavam visitando quintais nos arredores das cidades.
Há dez quilômetros da ponte um caminhão vinha em alta velocidade. Antônio, o bom motorista, sempre mandava revisar o seu veículo e conhecia bem a estrada, mas com as chuvas muitos trechos pioraram.
Numa daquelas conhecidas curvas, um buraco maior apareceu e ele não teve como desviar a tempo.
Uma roda desprendeu-se do eixo e seguiu pelo asfalto, sem que o motorista notasse. Era uma grande descida, João atravessou a ponte e seguiu o seu destino.
A roda seguiu girando pelo asfalto, antes de chegar a ponte ela entrou à esquerda e desceu a ladeira.
O pescador estava lá no seu pesqueiro, compenetrado, os peixes aumentaram. Já estava com a capanga cheia. Improvisou um gancho de um galho para acomodar o restante das piabas e mandis.
Como estava ficando tarde a família ficou preocupada. O seu filho mais novo foi à sua procura.
Encontrou o velho morto, no rio, agarrado a um galho de ingá.
Havia um corte na sua cabeça, logo acima da nuca. Ficou por entender como aquilo teria acontecido.
Deixou o corpo encostado numa árvore e pesquisou em volta. Logo abaixo, cerca de cem metros, uma roda de caminhão, tombada ao lado de um cupinzeiro.
Manoel Amaral
OSVANDIR E O GOLPE DO ACIDENTE
quando fizer algo que não dê certo.”
(Luiz Gasparetto)
Aqueles ônibus loucos, aquelas obras inacabáveis, carros velhos e novos buzinando a todo momento, motos por todo lado, tudo contribuindo para que cada dia o trânsito ficasse cada vez pior.
Osvandir descia lá do alto da Avenida Afonso Pena, com intenção de pegar a Avenida Amazonas e vir para sua terra, mas antes pode observar um fato muito esquisito.
Viu um homem de meia idade, atravessar uma rua em disparada, não deu tempo do motorista da Kombi parar e o infeliz bateu com o corpo todo na lateral direita do veículo, provocando um grande amasso na lataria.
Até aí tudo bem, mais um acidente naquele conturbado trânsito.
Engano, aquilo gerou um rumoroso processo judicial.
O motorista ficou receoso de que o pedestre solicitasse algum valor de indenização na justiça e antes que isso acontecesse pediu a um advogado que preparasse uma Ação de Indenização por Perdas e Danos, contra o infeliz.
Como a justiça é morosa, gastou alguns meses para o Senhor Jairzinho ser citado para a audiência. Achou muito interessante, pois não devia nada a ninguém. Leu a documentação entregue pelo Oficial de Justiça, mas não entendeu muito bem.
Na petição o Advogado fazia uma série de alegações e munido da perícia concluía que o pobre do pedestre havia atropelado o veículo e requeria danos morais e materiais.
Aquele processo serviu de gozação no Fórum local, mas o fato é que ele seguia os trâmites legais.
No dia da audiência, o MM. Juiz notando a pobreza do indivíduo e a malícia do autor, propôs um acordo: o autor pagaria as custas e o advogado, o réu comprometeria perante todos que não reclamaria qualquer tipo de indenização no futuro.
Ambos satisfeitos, declarou-se encerrado mais um processo na primeira audiência.
Tudo estaria esquecido se não fosse uma conversa que Osvandir ouviu, por acaso, depois da audiência:
__ Você conseguiu sair de mais essa, não é mesmo Jairzinho?
__ É, eu errei o cálculo, a minha velocidade não deu para cair na frente do veículo, aí bati na lateral.
__ Como é mesmo esta história? Perguntou Osvandir.
__ O Jairzinho já vinha planejando este acidente há tempos, com a intenção de pedir indenização. Acontece que ele não foi feliz no golpe…
– informou um amigo.
Osvandir saiu dali sem saber quem era o mais esperto, se o motorista ou o atropelado.
MANOEL AMARAL